Os pais desejam falar com os seus filhos adolescentes e saber o que pensam, sentem e fazem, mas os jovens não falam…Isto é normal?
Claramente, esta é uma das fases da adolescência, o silêncio. A nova forma de comunicar-se é o silêncio ou, no melhor dos casos, as frases curtas. Alguns livram-se de cair nesta etapa, mas são muito poucos. Por isso, é normal encontrar tantos pais desesperados com a indolência dos seus filhos. Tomar consciência do que se trata e de por que acontece é uma boa ajuda, pois assim é possível aprender o lado positivo, que neste caso, não é pequeno.
Durante a infância as crianças estão completamente viradas para o mundo exterior, comunicam e recebem ordens sem problemas. Mas na puberdade, e fazendo isso parte de um processo absolutamente normal, começam a ter uma maior preocupação por outros aspectos de si mesmos. No início, isto toma a forma de introversão passiva, para ir progressivamente tornando-se ativa, e caracteriza-se por:
- O jovem desvia o interesse do mundo exterior, para se concentrar cada vez mais em si próprio.
- Procura diferenciar-se de todo o resto e, por esse motivo, rompe com a autoridade, tanto dos pais como dos professores. Procura autonomia, o que por vezes implica um período de crítica, e lhe faz perder, por exemplo, o interesse em participar nas atividades familiares.
- Na parte final do conhecimento, cresce a fantasia, através da qual compensa as inseguranças que experimenta no mundo real. Por isso é tão difícil falar com ele: está no seu próprio mundo.
A conseqüência disso: um sujeito isolado que se torna calado e completamente egocêntrico. O objetivo: desligar-se de tudo o que é exterior para melhor conhecer a sua interioridade e se encontrar com a sua intimidade. Precisam de um certo isolamento para pensarem e refletirem acerca de quem são, das suas novas experiências e formas de sentir o mundo.
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O que é mais normal com esta atitude é que os pais percam a paciência. Mas é importante que eles tomem consciência de que se trata de um processo de conhecimento. Assim, tendo em conta certos pontos, e sabendo quais são as consequências positivas, será mais fácil compreender os anos de introversão.
No mundo atual, as pessoas tornaram-se mais intolerantes perante os silêncios individuais. Vivemos num ambiente que é extremamente extrovertido: tudo se fala, tudo se diz e não se respeitam os momentos de silêncio, que são fundamentais para o desenvolvimento da intimidade. Isto não significa que o adolescente corte a comunicação verbal para sempre e não tenha mais nada para contar: também há momentos em que se envolvem, e isto é normal, mas nesta fase são menos freqüentes.
E como o silêncio é o estado normal, um segundo ponto é que: o estar calado é também uma forma de comunicação. Dão-se informações através das palavras, mas também através do silêncio, por isso, os adolescentes estão dizendo alguma coisa. Nós, os pais, devemos desenvolver a habilidade de decifrar o que está acontecendo.
O silêncio normal nesta idade é o explicado anteriormente, quer dizer, que ele tem a ver com a procura da intimidade, é uma reflexão que se exprime com a tendência ao isolamento. Este silêncio, porém, é diferente do silêncio que é acompanhado de hostilidade, ou de problemas de relacionamento com os pais, ou de baixo rendimento escolar. Nestes casos o silêncio tem outro significado: é um problema que tem de ser solucionado. Quanto mais áreas este silêncio comprometa, mais preocupante é.
Se o silêncio é excessivo, provocando uma ruptura total com os outros, isso já é negativo e precisa ser avaliado.
Por mais positivo que seja, para os pais tanto isolamento pode assustar. Para não caírem em desespero e saberem como agir, algumas recomendações chave:
Conhecer o processo
A primeira das chaves é tomar consciência do processo que seu filho está vivendo. Ele está num momento de ajustes, está desconcertado, buscando autonomia, está lento, e ter isso em conta é fundamental para não ser violento com ele e, pelo contrário, encher-se de paciência. Além disso, é importante compreender que a atividade exterior não é a única alternativa; a atividade interior também é fundamental.
Estar e acompanhar
Como ação concreta, o mais recomendado é a companhia. Acompanhar e estar aí, junto deles, é a melhor forma de comunicação. Há que evitar cair na tentação de que: como não me fala deixo-o sozinho É um estar presente que não implica nem falar nem brigar, mas apenas garantir que desses pensamentos que deslumbram o adolescente se obtenham bons resultados. Se ele não fala, fale com ele, conte sobre seu dia, sobre sua juventude, sobre suas conquistas, em saia do lugar de queixar e exigir o tempo todo.
Saber esperar
A paciência vale ouro, porque para esses resultados há que esperar um pouco, respeitando o silêncio, evitando zangar-se por não haver resposta. Tem que se ser delicado na relação com os filhos e não os enchê-los com perguntas e com temas sem sentido. Isso não vai resultar. O melhor é criar situações de silêncio e de contato pessoal e direto, marcando sempre o limite do que é correto e permitido. Desta maneira, uma criança que sente que a respeitam, finalmente, no fim da sua adolescência, será, sem dúvida, capaz de exprimir os seus pensamentos e combinar muito bem as duas perspectivas humanas: a intimidade e a capacidade de agrupar-se com os outros.
Quando alarmar-se e procurar uma ajuda profissional
- Quando o silêncio é acompanhado de agressividade;
- Quando a má relação com os pais e professores demonstrar outras causas que não simplesmente a adolescência;
- Quando existam suspeitas fundadas de que o filho não anda por bons caminhos;
- Quando existam quedas do rendimento escolar;
- Quando perdem ou ganham apetite demasiadamente;
- Quando o choro é constante;
- Quando relatam desejo de morrer.
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Não abrir mão dos limites
Se a recomendação é respeitar o silêncio dos adolescentes e permitir-lhes que desenvolvam um mundo próprio, para tudo há limites, e estes devem ser devidamente estabelecidos, por exemplo:
- Está bem que ouçam a sua música e que adorem estar enfiados nos fones e celulares, mas isto não deve ser feito à hora da refeição e atividades com a família.
- Que não se preocupem com os irmãos nas 24 horas do dia, é normal e aceitável, mas se por uma razão especial isso for necessário, devem estar dispostos a encarregarem-se deles.
- Que tenham e cumpram alguma atividade com o cuidado doméstico, ainda que seja apenas com seu quarto.
- É normal que não lhe agrade ensinar matemática ao irmão mais novo, mas que o faça sem problemas ao amigo. Não é preocupante. O mesmo se passa com as obras sociais: gosta de visitar asilos, mas não se dá conta de que em casa alguém está doente. Isso é normal e está dentro dos limites, mas também é superável e na maioria das vezes precisa ser solicitado à ele a sua ajuda.
“Os pais precisam parar de ter medo de estabelecer limites. Eles têm dificuldade em entender a diferença entre autoridade e autoritarismo. A frustração ao se ouvir um ‘não’ é estruturante para o jovem” (Hugo Monteiro Ferreira, neuropsicólogo).
A vontade de acertar não é garantia de sucesso. Mas os pais têm de assumir o papel de guardiões de seus filhos e estabelecer uma relação de verdade e confiança com eles.
Eu sei que é desafiador, às vezes frustrante, e aparentemente traz pouca recompensa, mas se você der tempo ao tempo, verá como as coisas vão melhorar. Como uma semente leva tempo para crescer e atingir seu pleno status de planta, também seu filho precisa da mesma atenção e cuidado para atingir seu potencial. Esteja lá para ele – a adolescência não dura para sempre.
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Ótimo post!!!
Devemos dar esse tempo para eles, essa “hibernação” é primordial para desenvolverem sua análise internamente crítica.