A adolescência dos filhos é um período que pode mexer com os pais. Na prática, pequenos ajustes de postura bastam para que a relação volte a fluir. Entender o que ocorre com os jovens, saber de suas novas necessidades diminui muito a ansiedade dos pais. Terapeutas e pais experientes são unânimes em dizer que o crescimento dos filhos representa uma oportunidade de estabelecer uma relação de parceria, com diálogo e negociação. Muitos pais sofrem por enxergar o filho como uma propriedade. Pais que tentam se manter estáticos e donos da razão são os que mais sofrem.
Estabelecer uma parceria com os filhos não significa virar melhor amigo. Os jovens já têm seus amigos. Os pais podem compartilhar e se interessar, mas sem forçar, sob o risco de sufocar os filhos e de ser banidos da convivência. Não há nada que um adolescente furioso faça tão bem quanto se isolar e erguer um muro em relação aos pais.
Ao se abrir para o movimento que o crescimento dos filhos provoca, toda a família tem chance de aprender. Os adolescentes estão em busca de um novo lugar no mundo, e isso força os pais a se recolocar. O estresse ocorre quando temos de nos adaptar a uma nova situação.
Os adolescentes, em geral, não passam por esse período com sofrimento. Ao contrário, para a maioria deles é um voo bastante prazeroso. Isso não quer dizer que eles não passem por momentos de crise pessoal ou estresse. Normalmente, esses episódios estão ligados a descobertas e a novos desafios, altamente estimulantes. O saldo final é positivo.
São comuns descompassos entre o desejo de autonomia dos adolescentes e sua capacidade real de lidar sozinho com as situações. A parte do cérebro responsável por controlar nossos impulsos ainda está em fase de mudança no adolescente. Ela não é tão madura quanto num adulto. Para completar, a produção do hormônio responsável por nossa sensação de prazer, a dopamina, é explosiva nessa fase. Situações de risco produzem muito mais prazer em adolescentes que em adultos. Boa parte das preocupações dos pais é justificada. Ainda assim, mantê-los embaixo das asas não é uma opção. O desafio dos adultos é descobrir até que ponto eles podem seguir sozinhos e quando devemos intervir.
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Como funciona o cérebro do adolescente?
O período da adolescência é de extrema importância na reorganização neural e nas mudanças que afetam drasticamente a formação de nossa identidade. Mas que partes do cérebro estão envolvidas nas mudanças enfrentadas na adolescência? Duas áreas merecem um estudo mais detalhado: o sistema límbico e o córtex pré-frontal.
O sistema límbico é a estrutura mais importante para a memória (hipocampo) e está próximo à amígdala, uma estrutura que ajuda a produzir emoções. Essa relação anatômica garante que as experiências carregadas de emoção sejam mais facilmente lembradas que os eventos neutros.
Já o córtex pré-frontal, última camada do cérebro a amadurecer, é a área responsável pelo pensamento crítico, tomada de decisão, autocontrole, planejamento, atenção, organização, controle de emoção, de riscos e impulsos, automonitorização, empatia e resolução de problemas.
Na adolescência, como o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento, os jovens fazem uso da amígdala para tomar decisões e resolver problemas. Vale lembrar que a amígdala está associada a emoções, impulsos, agressividade e comportamento instintivo.
Para completar esse caleidoscópio de emoções, o cérebro adolescente contém níveis mais baixos de serotonina e dopamina, neurotransmissores que proporcionam a sensação de prazer e bem-estar. Isso pode gerar o aumento da agressão, juntamente com níveis mais altos de testosterona, contribuindo para explosões de raiva e comportamento impulsivo. Os lobos frontais do cérebro, por sua vez, não estão totalmente desenvolvidos nesses anos, o que limita a função cerebral na resolução de problemas, na regulação emocional e no foco.
Os estudos de neurociência nos ajudam a responder algumas perguntas que fazemos ao lidarmos com adolescentes.
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Por que a organização não é uma prioridade para a maioria dos adolescentes?
O fato é que a organização exige um alto nível de controle cognitivo e a maneira como o cérebro adolescente está conectado, tendo pouco acesso aos lobos frontais, dificulta o processo de planejamento. Levado pelas emoções, via sistema límbico, o adolescente busca novas aventuras, não tendo foco na organização.
Por que os adolescentes não se desgrudam dos seus celulares, nem mesmo na hora das refeições ou durante as aulas?
O cérebro adolescente está constantemente buscando estímulos e por ainda não terem pleno acesso ao córtex pré-frontal, não conseguem enviar para si mesmos as mensagens de “chega por hoje”, “preciso me concentrar”, “preciso prestar mais atenção à aula”. Sendo assim, ainda precisam da ajuda de pessoas mais experientes para lhes mostrar comportamentos que sejam mais produtivos.
Por que muitas vezes nos sentimos cada vez mais distantes dos adolescentes? Por que eles não falam conosco adequadamente?
A adolescência é uma era de autodescoberta e busca por novidades, então, é natural que eles comecem a cortar laços. Bem, os adolescentes precisam se tornar independentes, mas vivemos em um mundo muito complexo, e nenhuma outra geração na história teve tanta exposição aos inputs que surgem quando estão online. Desta forma, nós, pais e professores precisamos estar vigilantes e permanecer conectados a eles.
A maneira como o adolescente vê o mundo é consequência de um cérebro que está em plena transformação, que segue um cronograma. Tais mudanças os levam a ter mais autoconsciência, a estarem dispostos a correr mais riscos e assumir comportamentos motivados pelos colegas.
Um ponto importante que pais e professores precisam considerar é que o comportamento do adolescente não é simplesmente o resultado de decisões ou atitudes, é o produto de uma fase de mudanças neurais intensas e inevitáveis. Justamente isso justifica um pouco como funciona o cérebro do adolescente, cabendo, portanto, estarmos cientes desse processo e auxiliar os adolescentes a atravessar essa onda de emoções de forma saudável e construtiva.
Agora me conta, por ai você também tem um adolescente e está passando por estes períodos? Deixe seu comentário compartilhando sua experiência e em caso de dúvidas também!